Autores*: João Rafael Assis Alderete, Marcela Meirelles Tozzi, Mateus Jorge Nardelli, Gabriella Yuka Shiomatsu, Vitor Yukio Ninomiya, Ricardo Tadeu de Carvalho.

Sabemos que o novo coronavírus afeta as pessoas de forma diferente. Os grupos de risco, por exemplo, apresentam maior chance de desenvolverem a forma grave da doença. Esse grupo inclui idosos, pessoas com imunossupressão, doenças cardíacas, pulmonares, entre outras.

Pesquisas no mundo inteiro buscam explicar por que a gravidade da covid-19 varia tanto entre as pessoas. Entender como o vírus invade o corpo e como ele se defende parece ser o caminho para essa resposta. Compreenda aqui o que a ciência já sabe sobre como o coronavírus age no organismo!

 

Como o novo coronavírus age no organismo? 

O novo coronavírus viaja, principalmente, em gotículas eliminadas na fala, espirros ou tosse. O contato com elas pode ocorrer de forma direta de pessoa para pessoa, — quando beijamos, abraçamos, apertamos as mãos ou ficamos muito perto de pessoas infectadas —, ou de forma indireta, quando encostamos em superfícies e objetos contaminados. 

Representação do novo coronavírus ou SARS-Cov-2.

Photo by CDC on Unsplash

Ao entrar no corpo humano, o vírus se multiplica dentro do nosso nariz e outras partes do sistema respiratório de forma despercebida. Essa fase é chamada de pré-sintomática ou de incubação. Nela, apesar de ainda não haver sintomas, indivíduos contaminados são capazes de infectar outras pessoas.

Com o passar dos dias, o coronavírus se espalha e o corpo reage a essa invasão. Nesse período podem surgir os primeiros sintomas, — febre, nariz escorrendo (coriza), dor de garganta e tosse, muito semelhantes a um resfriado comum. Mesmo nessa fase, algumas pessoas não desenvolvem nenhum sintoma da infecção: são os chamados casos assintomáticos, que também parecem poder transmitir a covid-19, apesar de não sabermos com que frequência isso ocorre.

Na maior parte das vezes, o sistema imune consegue combater o vírus de forma eficaz. Por isso, a maioria das pessoas apresenta apenas sintomas leves e recuperam-se após alguns dias. 

Entretanto, em alguns casos, o vírus consegue chegar aos pulmões provocando sintomas graves, como falta de ar e, consequentemente, menor oxigenação dos órgãos do nosso corpo. Tudo isso pode ser fatal. 

Como o novo coronavírus ataca o pulmão na covid-19 grave?

No pulmão, o vírus inicia uma inflamação grave, que ataca principalmente os alvéolos. Os alvéolos são pequenos sacos de ar que ficam dentro dos pulmões e são responsáveis pela troca gasosa, ou seja, levam oxigênio ao sangue. O nosso corpo reconhece o vírus como uma ameaça e inicia o processo de combate a esse microorganismo, chamado de inflamação.

A inflamação nos alvéolos leva ao preenchimento desses sacos de ar com líquido, prejudicando a troca gasosa. Assim, nosso sangue não recebe oxigênio suficiente. Além disso, não consegue eliminar o gás carbônico, que é tóxico em grandes quantidades. Tudo isso causa a falta de ar. Nesse estágio, são necessários cuidados médicos imediatos. 

Além disso, a inflamação no pulmão também o fragiliza, favorecendo a entrada de bactérias. Dessa forma, duas doenças podem se sobrepor: a covid-19, causada por um vírus, e uma pneumonia causada por bactéria, piorando ainda mais o quadro.

Como funciona a resposta do sistema imunológico?

Quando somos infectados, o sistema imune — o sistema de defesa do nosso corpo contra vírus, bactérias e fungos — inicia uma batalha contra o microrganismo invasor. Mesmo com o objetivo de combater a covid-19, a resposta do nosso sistema imune pode ocorrer de forma descontrolada, gerando sintomas graves. Isso significa que a forma como a imunidade interage com o vírus influencia muito na gravidade da doença.

Mas antes, vamos entender o que é o sistema imune! Ele é dividido em duas partes: 

  1. a defesa inata, que está presente desde o nascimento e tem como característica atuar de forma rápida e imediata contra vários invasores. Ela não é específica e age de forma parecida para eliminar todos os tipos e espécies de microrganismos;
  2. a defesa adquirida, que não nasce pronta e tem como característica identificar invasores específicos que encontra durante a vida. Por isso, demora um pouco mais para entrar em ação. Em outras palavras, ela é focada em um microrganismo e, por isso, tem mais chances de sucesso. 

Na infecção pelo novo coronavírus, a defesa inata do sistema respiratório percebe o vírus e, em poucas horas, inicia os mecanismos de defesa. Assim, ela diminui a multiplicação do vírus e avisa para o restante do corpo que está acontecendo uma invasão.

Após esse aviso, a defesa adaptativa entra em ação. Células e anticorpos produzidos por essa linha de defesa atacam o coronavírus, destruindo-o. Entretanto, ainda não se sabe precisamente qual o mecanismo de imunidade contra a covid-19.

Nos casos mais críticos, porém, pode ocorrer uma resposta exagerada e ineficaz do sistema imune. A consequência disso é o ataque a vários órgãos do próprio corpo, o que pode ser fatal.

Por que a covid-19 é mais grave em idosos?

Mãos de um idoso, que faz parte do grupo de risco para a covid-19 grave.

Os idosos (idade maior ou igual a 60 anos) fazem parte do grupo de risco. Lembra que esse grupo é mais vulnerável ao desenvolvimento da forma grave da covid-19? Parte disso ocorre pelo "enfraquecimento” do sistema imune com o avançar da idade, que não consegue combater corretamente o vírus e controlar a inflamação adequadamente.

Além disso, pessoas idosas podem ter um sistema respiratório menos resistente a doenças, tornando-o mais vulnerável à intensa agressão que ocorre nos casos graves da covid-19. O envelhecimento que vemos na nossa pele atinge todo o corpo, inclusive os sistemas imunológico e respiratório.

Qual o papel das doenças crônicas na gravidade da covid-19?

Para invadir as células, o coronavírus usa uma porta de entrada que é muito presente no pulmão, por um processo semelhante ao de uma chave abrindo uma fechadura, sendo o coronavírus a chave, e a substância a fechadura. Em doenças como diabetes e pressão alta, mais comuns em idosos, a substância que funciona como “fechadura” está ainda mais presente.  Acredita-se que isso deixa mais portas de entrada “abertas” e facilita a multiplicação do vírus.

 Medidas de prevenção para evitar os mecanismos de como age o coronavírus no organismo.

Após entender como o coronavírus age no organismo, fica claro que a covid-19 é grave, especialmente nos grupos de risco. Por isso, é fundamental nos mantermos seguros, seguindo as medidas preventivas. Além disso, atualizar-se sobre o assunto é importante e pode ajudar a proteger a si e aos outros.

 

Quer saber por que a covid-19 pode causar casos mais complicados nos grupos de risco? Confira nossos posts sobre a covid-19 em obesos e diabéticos

*Este post foi escrito pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG pela parceria da SES-MG com o projeto Adote sua Vizinhança em Tempos de covid-19.

Este texto foi redigido conforme as evidências disponíveis até 30/07/2020.

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