#SOBREVIVEMOSMG - Raquel

“O novo coronavírus joga luz no que você tem de melhor e de pior”

Entre os aprendizados impostos pela covid-19 está o de potencializar valores existentes na sociedade. Isso fica mais nítido para quem vivencia de perto a luta pela sobrevivência contra o vírus. “É uma experiência que você tem que escolher quem você é. O novo coronavírus joga luz no que você tem de melhor e de pior”, comenta a procuradora do Estado de Minas Gerais, Raquel Melo Urbano de Carvalho.

No início de julho, ela viveu o pesadelo de ter seus pais Osmar Urbano de Carvalho, de 90 anos, e sua mãe Terezinha Melo Urbano de Carvalho, de 87, infectados pelo vírus. Era final de junho, quando, em Belo Horizonte, os indicadores apontavam para um aumento do contágio e no número de internações causadas pela doença.

Osmar é portador do Mal de Alzheimer há 10 anos e, no dia 29 de junho, numa segunda-feira, ele começou a ter coriza. “Meu pai não reclama de dor e, naquele dia, ele disse que estava com as costas doendo. Na madrugada de segunda-feira para terça-feira, minha mãe teve diarreia, enjoo, mal-estar e dor no corpo”, conta Raquel, que acendeu ainda mais o sinal de alerta e desconfiou da covid-19, quando uma das cuidadoras de seus pais lhe disse que estava sem olfato. “A partir disso, eu já tinha certeza de que meus pais tinham sido contaminados. ”

O casal de idosos mora sozinhos, mas, por causa da idade e limitações, é acompanhado por cinco cuidadores. Assim que desconfiou do contágio, Raquel, que se informava diariamente sobre a doença, procurou atendimento médico. Em menos de 24 horas, Terezinha teve uma piora no quadro, com aumento dos batimentos cardíacos e a saturação de oxigênio caiu.

Terezinha foi internada em um hospital particular de Belo Horizonte onde foi intubada e ficou 32 dias. Raquel faz parte do grupo de risco para o novo coronavírus, por ter doença autoimune e sobrepeso, e não podia acompanhar o pai em casa nem a mãe na internação. Para complicar ainda mais a sua situação, as cuidadoras do casal apresentaram sintomas para a doença. Tanto Osmar quanto Terezinha testaram positivo para o vírus.

Terezinha, por causa do vírus, apresentou alterações neurológicas e necessitou  de acompanhante na internação. A princípio, uma das cuidadoras se ofereceu para ficar com ela no hospital, mas, em pouco tempo, foi contaminada. “As cuidadoras de meus pais são fantásticas e tratam eles com muito carinho, inclusive, elas se arriscaram para ajudá-los. No entanto, diante do quadro, eu não poderia colocar ninguém em risco, então, contratei uma empresa que oferecia o serviço de acompanhante, com profissionais preparado e equipados para isso. ”

Ao mesmo tempo, seu pai, que não precisou ser internado, necessitava de ajuda, uma vez que é portador do Mal de Alzheimer. Além de uma cuidadora que não se contaminou, ele contou com ajuda de outras que eram desconhecidas para ele. “Ele ficou sem referência de afetos. Estava longe daquelas que cuidavam dele, da minha mãe e de mim. Com isso, ficou sem comer e sem beber”, recorda Raquel, lembrando que a fisioterapeuta e a fonoaudióloga, que acompanham Osmar, mantiveram as sessões.

Gratidão

“Eu disse a todos os profissionais que, se quisessem se afastar por causa dos riscos, poderiam. Mas ninguém quis abandonar o barco”, conta Raquel, agradecida. Com o abatimento do pai e com a mãe no CTI, ela também enfrentou os riscos e ficou com o pai em casa. “E ele voltou a comer e a beber. Aos poucos, ele foi voltando.”

Terezinha teve que lutar muito no CTI, com tratamento pesado com antibióticos. Raquel se lembra da dificuldade de encontrar leitos para internação de Terezinha, já que em BH a taxa de ocupação estava alta, além de entraves com plano de saúde. “A minha sensação é de que a covid jogou uma luz no nosso pior e no nosso melhor. Jogou luz sobre SUS, porque sem ele o número de mortes seria muito maior. Iluminou também a falta de consciência de alguns. Qual sociedade temos? Qual Estado temos? Qual mercado temos? ”, questiona.

Por causa dos 32 dias de internação, Terezinha perdeu massa muscular, o que afetou a sua locomoção. Atualmente, ela não anda. Osmar desenvolveu problemas cardíacos, mas ainda não se sabe se foram provocados pela covid-19. “Não subestime essa doença e aja antecipadamente. Não se esqueça de que existem outras pessoas no mundo, além dos seus familiares e amigos. O médico que está te atendendo, está sem dormir. O hospital que não deixa você entrar está atendendo um protocolo para o bem do coletivo. ”

© 2024 SES - Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Desenvolvido pela Assessoria de Comunicação Social.