Autores*: Matheus Gonçalves Flores, Leandra Prates Diniz, Gabriella Yuka Shiomatsu, Vitor Yukio Ninomiya, Ricardo Tadeu de Carvalho,.
Você sabe como funciona o teste rápido para covid-19? Os testes rápidos têm sido assunto frequente nas notícias, pois são uma ferramenta importante para diagnosticar a covid-19 em alguns casos.
Por isso, é importante saber como eles funcionam e quais as suas limitações. Você sabe quando o teste rápido está indicado? E o que seu resultado pode significar? Para entender as respostas dessas dúvidas tão frequentes, acompanhe nosso texto!
O que é um teste sorológico?
Testes sorológicos são aqueles que identificam a presença de anticorpos no material avaliado (que pode ser sangue, saliva ou catarro por exemplo). Anticorpos são substâncias produzidas pelo sistema de defesa humano quando algum microrganismo ou algum corpo estranho entra em contato com o corpo.
Eles são pequenas proteínas que se ligam ao microorganismo invasor, impedindo que eles danifiquem nossas células. Além disso, sinalizam para células do sistema imunológico que elas devem atacar.
Para cada vírus, bactéria ou fungo, o corpo produz anticorpos específicos. Por isso, geralmente, os anticorpos contra uma infecção não funcionam contra outra, mas há exceções. Dessa forma, ao se identificar um determinado anticorpo numa amostra de sangue, por exemplo, é possível identificar o agente que infectou o indivíduo.
No entanto, quando dois microrganismos são muito parecidos, ocorre a reação cruzada. Ou seja, um mesmo anticorpo foi produzido contra duas infecções diferentes. Isso deve ser levado em consideração na hora de indicar e interpretar os testes.
Como funciona o teste rápido para covid-19?
O teste rápido para covid-19 consiste num cassete de plástico (similar àqueles de testes de gravidez encontrados em farmácias) com um pequeno poço onde se coloca algumas gotas de sangue da pessoa a ser testada. O sangue passa, então, por uma fita absorvente que o leva até a área onde está o reagente.
O reagente é uma substância que, quando entra em contato com os anticorpos muda de cor, indicando a presença deles na amostra avaliada. Caso a pessoa tenha produzido anticorpos para o novo coronavírus, duas faixas coloridas aparecerão no mostrador e o resultado é positivo. Caso o sangue não apresente anticorpos, aparece apenas uma faixa e o resultado é negativo. Se o mostrador continuar branco, o teste deu errado e deve ser refeito.
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Os principais pontos positivos do teste rápido são: a velocidade, o resultado sai em poucos minutos; a praticidade, pode ser realizado em qualquer lugar facilmente; e o custo, mais barato que outros testes disponíveis.
O que significa o resultado do teste rápido?
Os testes atuais avaliam a presença de dois tipos de anticorpos diferentes, IgG e IgM. O significado do teste depende de quais dessas proteínas foi identificada.
Quando o resultado é positivo apenas para IgM, significa que a pessoa está ou esteve recentemente infectada. Quando o resultado é positivo para IgG significa que a pessoa já entrou em contato com o vírus no passado.
Vale ressaltar que o resultado positivo para anticorpos não significa que a pessoa está com o vírus no momento do teste pois tanto a IgM e, especialmente, a IgG permanecem presentes no sangue por longos períodos após o fim da infecção.
Quais são as limitações do teste rápido?
Como todos exames médicos, o teste rápido possui algumas limitações. Algumas delas estão relacionadas às taxas de resultados incorretos que podem ocorrer.
Antes de tudo, precisamos entender o que é sensibilidade e especificidade. Todo exame médico possui uma sensibilidade e uma especificidade, que indicam o quão certeiros são os seus resultados e pode variar de acordo com alguns fatores, como o fabricante. No caso do teste rápido, a sensibilidade indica quantas pessoas realmente com anticorpos tiveram um teste positivo (chamamos de verdadeiros positivos) e a especificidade indica quantas pessoas realmente sem os anticorpos tiveram um teste negativo (chamamos de verdadeiros positivos). Vamos entender melhor com um exemplo prático?
Segundo o Ministério da Saúde, os testes rápidos apresentaram uma especificidade mínima de 94% para o anticorpo IgM, ou seja, 94 em cada 100 pessoas realmente sem os anticorpos IgM apresentaram um teste negativo (ou seja, que não detectou o IgM) e as 6 pessoas que restaram, apesar de não terem esse anticorpo, apresentaram um teste positivo (chamamos de falso-positivo). Já a sensibilidade mínima foi de 85% para o IgM, ou seja, 85 a cada 100 pessoas realmente com anticorpos IgM apresentaram teste positivo (ou seja, que detectou o IgM) e as 15 pessoas que restaram, apesar de terem esse anticorpo, apresentaram um teste negativo (chamamos de falso-negativo).
Assim sendo, os resultados devem ser interpretados com cautela. Para informações mais detalhadas sobre a acurácia dos testes acessar boletim do Ministério da Saude.
Outras limitações estão relacionadas ao tempo que o corpo demora para produzir os anticorpos após o contato com o vírus, período chamado de janela imunológica. Geralmente os anticorpos só são produzidos em quantidades identificáveis pelos testes 8 dias após a contaminação. Por isso, indicamos o teste rápido para confirmação do diagnóstico apenas 8 dias após o início dos sintomas. Antes disso, caso seja realizado o teste rápido, ele seria negativo, mesmo com a infecção estando ativa. Antes disso, caso o paciente se enquadre nos critérios, ele poderá realizar outro teste: o RT-PCR.
Quando devo realizar o teste rápido?
O teste rápido só deve ser utilizado 8 dias após o início dos sintomas. Segundo a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais devem ser testados os sintomáticos, seguindo a seguinte ordem de prioridade:
- Profissionais de saúde e segurança pública em atividade;
- Pessoas que morem no mesmo domicílio que profissional da saúde ou segurança pública com sintomas e em atividade;
- População idosa (a partir dos 60 anos);
- Pessoas com condições clínicas de risco, como doenças cardíacas, respiratórias e renais graves e mal controladas;
- População economicamente ativa com idade entre 15 e 59 anos;
- Óbitos suspeitos de covid-19.
O teste rápido consiste numa ferramenta importantíssima no controle da epidemia de covid-19, como na identificação da quantidade de pessoas que já foram infectadas. Contudo, se utilizado de forma incorreta, pode levar a conclusões equivocadas.
Gostou das informações? Cheque o site do SES-MG para mais saber mais sobre a covid-19.
*Este post foi escrito pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG pela parceria da SES-MG com o projeto Adote sua Vizinhança em Tempos de covid-19.