Autores*: João Rafael Assis Alderete, Mateus Jorge Nardelli, Gabriella Yuka Shiomatsu, Vitor Yukio Ninomiya, Ricardo Tadeu de Carvalho.
Cientistas ao redor do mundo pesquisam como funciona a imunidade na covid-19. Esse conhecimento pode facilitar o desenvolvimento de vacinas e esclarecer se pessoas já curadas podem ou não se infectar novamente. Portanto, entender a imunidade significa responder algumas perguntas:
- entre as pessoas infectadas, quantas ficam resistentes?
- quanto tempo dura essa resistência?
- como o corpo desenvolve a imunidade?
Entenda nesta postagem como essas respostas têm tudo a ver com a nossa vida na prática!
O que é o sistema imune?
O sistema imune é nossa defesa contra organismos que podem nos infectar, chamados de patógenos, como os vírus e as bactérias.
Esse sistema é formado por vários mecanismos, como a barreira da pele, as células do sangue, anticorpos e outros componentes. O sistema imune apresenta dois tipos de resposta:
- o sistema imune inato responde rapidamente a ameaças, enfraquecendo-as. No entanto, ele não é específico para um microrganismo. Por isso pode ser eficaz;
- já o sistema imune adquirido demora a entrar em ação de forma eficiente, cerca de 3 a 7 dias, mas sua resposta é eficaz e geralmente elimina a infecção.
Quando combate uma ameaça, o sistema imune adquirido “memoriza” informações sobre ela. Isso permite um enfrentamento mais eficaz ao mesmo invasor no futuro. Essa memória contra doenças, que previne uma infecção repetida, é o que chamamos de imunidade.
Qual a relação entre sistema imune e vacinas?
As vacinas são a ferramenta que encontramos de criar imunidade sem ter uma infecção. Na vacina, há “pedaços” do patógeno que fazem o sistema imune achar que há uma invasão. Os vários soldados do sistema imune combatem a “invasão” e, como vimos, pode ocorrer a “memória”, que a gente chama popularmente de imunidade.
Assim, há a proteção contra futuras infecções pelo mesmo microrganismo. Isso pode não acontecer naturalmente quando pegamos uma infecção, mas quase sempre acontece quando tomamos as doses certas das vacinas. Resumindo, as vacinas estimulam e dependem do sistema imune adquirido para funcionar.
Como funciona a imunidade na covid-19?
A produção de anticorpos é uma etapa importante para combater muitas infecções e adquirir imunidade. Mas ela não é a única. Uma parte menos conhecida do sistema imune adquirido são as células T.
Essas células comandam o sistema inato e também agem na linha de frente, destruindo células invadidas que passariam a produzir mais vírus.
Pesquisas têm mostrado que algumas pessoas bem sucedidas no combate à covid-19 tinham poucos anticorpos. Outra pesquisa, que ainda precisa ser revista e publicada, sugere que a atividade das células T é um indicador de melhor imunidade contra a covid-19.
Existem testes para identificar os anticorpos?
Os testes que identificam anticorpos, chamados sorológicos, já existem para a covid-19 (podem ser testes rápidos ou de laboratório).
Apesar disso, os resultados mais recentes alertam: é possível que a presença de anticorpos não corresponda à imunidade. Isso ainda está sendo esclarecido na covid-19 para a criação da vacinas.
Existem ainda testes da atividade das células T, mas são muito menos acessíveis que os sorológicos.
Entendendo as notícias…
A imunidade na covid-19 vem gerando muitas dúvidas e hipóteses novas, como esta notícia bem explica. Ela dá destaque aos estudos recentes sobre o papel das células T no combate ao novo coronavírus, uma vez que a formação de anticorpos esperada após a infecção pelo vírus muitas vezes não ocorre, principalmente em casos leves ou assintomáticos. O melhor entendimento dessa hipótese poderia mudar completamente os rumos das pesquisas sobre tratamento e vacina para a covid-19!
Um desses estudos, realizado na Suécia, identificou células T específicas para o novo coronavírus em pessoas expostas à doença, mas sem anticorpos, e em pessoas com história de covid-19 assintomática ou leve. Isso nos chama a atenção para o possível papel de proteção das células T, mesmo em pessoas sem anticorpos para o novo coronavírus! Essa pesquisa ainda não foi revisada pelos pares e, portanto, deve ser interpretada com cuidado.
Portanto, ainda restam dúvidas se todas as pessoas produzem uma resposta imune após a infecção pela covid-19 e quanto tempo seu efeito protetor duraria. Além disso, a imunidade não parece estar diretamente relacionada aos anticorpos. Isso dificulta usar os testes sorológicos como “passaportes de imunidade”, exigindo novas estratégias para o afrouxamento do distanciamento social.
Por isso mesmo, é importante não nos esquecermos de praticar as medidas de combate ao novo coronavírus que sabemos que funcionam: lave as mãos, use máscara e fique em casa, se puder!
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*Este post foi escrito pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG pela parceria da SES-MG com o projeto Adote sua Vizinhança em Tempos de covid-19.
Este texto foi redigido conforme as evidências disponíveis até 03/08/2020.