Autores*: Elisa Nicolsky Ferreira Santos, Guilherme Cabral Fraga Carvalho, Mariana Dinamarco Mestriner, Marina Lopes Machado, Ricardo Lage Guerra Lott Pires, Letícia de Melo Elias, Ricardo Tadeu de Carvalho.

O fim da pandemia de covid-19 é o objetivo comum dos países na atualidade. Para isso, cientistas de todo o mundo têm trabalhado em duas estratégias. A primeira é a busca de uma vacina contra coronavírus com objetivo de reduzir a transmissão e, assim, evitar que tantas pessoas adoeçam. A segunda é o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para tentar impedir mortes e sequelas graves nas pessoas infectadas.

Historicamente, vacinas foram essenciais para o controle de doenças, como a varíola, o sarampo e a poliomielite. Agora, elas são nossa melhor aposta contra a covid-19. Vamos entender um pouco mais?

 

A criação de uma vacina contra o coronavírus

A criação de uma boa vacina é um desafio e algumas características são fundamentais para que ela seja eficaz no combate ao vírus causador da doença.

Cientista em laboratório usando o microscópio para investigação de vacina contra o coronavírus

É preciso que seja segura, isto é, que não prejudique a saúde de quem a usa. Também é necessário que a proteção seja mantida por um longo tempo de forma que a pessoa não adoeça pela covid-19 meses ou mesmo anos após ter feito a imunização com a vacina. 

Por fim, é indispensável que funcione bem em idosos! Pessoas acima de 50 anos não costumam ter uma resposta adequada às vacinas devido à queda natural na função do sistema imunológico produzido pelo envelhecimento, mas, se tratando do grupo de maior risco da doença, não podem ser deixadas de lado.

Entendendo melhor...

O sistema imunológico são as células e substâncias do seu corpo que matam os vírus, as bactérias, os fungos e outros invasores. Entre os responsáveis pela defesa, estão os famosos glóbulos brancos e os anticorpos.

Os dois tipos de vacina

Há duas formas principais de se fazer vacinas. Uma delas usa o vírus inteiro, mas enfraquecido. Ele não consegue causar doença em pessoas saudáveis. É a chamada vacina com vírus vivo atenuado (atenuado significa enfraquecido). Exemplos delas são as contra febre amarela e varíola. No entanto, elas não são indicadas para todo mundo.

A proteção dada por esse tipo é mais eficiente, mas ela não é segura para todo mundo. Pessoas com sistema imune enfraquecido, como quem tem AIDS ou pessoas que usem medicamentos imunossupressores, precisam tomar cuidado com essas vacinas.

O que são imunossupressores?

São remédios que diminuem o poder do sistema imune. Eles são usados em algumas condições:

  • doenças autoimunes. Nelas, as células de defesa atacam o próprio corpo;
  • transplantes para evitar que o organismo ataque o novo órgão.

 

A outra forma usa vírus inteiros, mas mortos, ou pequenas partes do vírus. É a chamada vacina inativada. Por isso, ela não consegue causar doença na pessoa imunizada. Entretanto, oferece proteção mais baixa e várias doses podem ser necessárias. Sua segurança é maior e sua produção é mais rápida. Elas também são mais seguras para as pessoas com sistema imune mais fraco. Exemplos são as contra gripe e raiva.

Ambas as formas preparam o sistema imune para que ele reconheça e neutralize mais rapidamente o vírus verdadeiro caso tenha contato com ele, uma vez que as ferramentas para isso já estarão prontas.

Resumindo…

Com uma vacina segura, é como se você tivesse pegado o vírus ou a bactéria sem ficar doente. Então, quando seu corpo encontra um micro-organismo “de verdade”, o sistema imunológico sabe como matá-lo.

Mas, para uma vacina ser segura, é preciso muita pesquisa e estudos científicos.

 

Passo a passo para fazer uma vacina segura       

Ao desenvolver uma nova vacina, cientistas precisam seguir algumas etapas para garantir que ela funcione e seja segura. Os estudos devem cumprir um “passo a passo”:

  1. testes em laboratório com cultivadas artificialmente; 
  2. testes em animais — primeiro em ratos e camundongos e, depois disso, em macacos;
  3. testes nos seres humanos, dividido em 3 fases.

A ordem deve ser sempre essa e só passamos para a próxima etapa se os resultados nas anteriores forem positivos com poucos efeitos negativos.

A fase em que os cientistas testam a vacina em humanos é chamada de ensaio clínico. Nessa etapa, verificamos se a vacina é segura, observando se ela tem efeitos adversos graves ou se pode causar alguma outra doença.

Os ensaios clínicos avaliam também se as pessoas imunizadas realmente ficaram protegidas contra a doença e por quanto tempo. Como explicado anteriormente, é essencial para que a imunização seja considerada eficaz. 

Todo esse processo leva bastante tempo — geralmente, muitos anos — e dinheiro. Por estarmos vivendo em uma situação de emergência, algumas das etapas acima puderam ser aceleradas. No entanto, não é possível pular as fases que comprovam a segurança para a sua saúde.

O processo de produção da vacina contra o coronavírus pode ser muito caro

Felizmente, uma coisa que nos ajuda é já existirem estudos sobre vacinas contra vírus muito parecidos ao causador da covid-19. Ainda assim, a espera estimada para que a vacina contra coronavírus esteja pronta e aprovada é de, no mínimo, 12 a 18 meses.

As notícias sobre a vacina contra o coronavírus

Há várias notícias sobre a criação dessa vacina, não é mesmo? Isso é normal, já que ela é estratégia essencial para o fim da pandemia. Isso faz com que diversos governos e empresas de todo o mundo se esforcem em sua criação, totalizando mais de 100 projetos de pesquisa.

Um número tão expressivo deve ser interpretado com cautela, já que o processo de produção, testagem e aprovação é longo, podendo durar vários anos ou mesmo mais de uma década em situações normais.

No dia 20 de julho de 2020, saiu uma reportagem no G1 que a vacina de Oxford para covid-19 é segura e induz resposta imune. É uma notícia muito boa, mas é preciso ter cuidado. Lembra das três fases do ensaio clínico para a criação de uma vacina? Essa nova, apesar de já estar sendo testada em humanos, tem os resultados apenas das fases 1 e 2. Ainda é preciso que a fase 3 seja finalizada para termos certeza de que a vacina é realmente eficaz e segura em um grande número de pessoas. Se tudo ocorrer bem, as previsões são para junho de 2021.

No caso da atual pandemia, há uma cooperação mundial para produção da vacina sendo coordenada pela Gavi — uma aliança global pela distribuição mais igualitária de vacinas —, que organiza a iniciativa COVAX Facility, uma resposta global à doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que esse esforço conjunto possa resultar na produção e distribuição de uma vacina acessível a todos, reduzindo as desigualdades dos sistemas de saúde ao redor do mundo. Nesta reportagem, eles explicam que o Brasil foi um dos 75 países que já apresentou um pedido para participar da iniciativa.

A OMS já tem registro de 23 vacinas passando por ensaios clínicos, a fase mais avançada dos estudos científicos. Esse é um estágio longo e é importante ter em mente que o produto pode ser reprovado por diversos motivos (por exemplo, falha em conferir imunidade que protege de verdade, reações adversas que proíbem a aplicação). Por isso, é tão importante a existência de várias linhas de pesquisa.

As pesquisas em Minas Gerais

Em meio à corrida mundial para seu desenvolvimento, Minas conta com uma pesquisa bem interessante. Pesquisadores coordenados por Ricardo Gazzinelli, diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCT-V), juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), utilizam o modelo de vírus atenuado na confecção de uma vacina. Lembra dela? Aquela com vírus vivos, mas bastante enfraquecidos.

Os outros tipos de tratamento para covid-19

Outro tópico muito comentado é o tratamento buscando a cura da covid-19. Sabe-se que não existe um tratamento específico e definitivo para a doença no momento, apenas drogas sendo testadas em pesquisas científicas, sem resultados definitivos até agora.  

A imunização é a melhor de forma de proteger a si mesmo e à sociedade de doenças infecciosas. Por isso, é tão importante se vacinar para as doenças que já têm vacina. 

Ao se vacinar, você contribui para o efeito de imunização de rebanho e ajuda toda a sua sociedade e as pessoas que você ama. Nela, as pessoas vacinadas dificultam a disseminação da doença. Afinal, o vírus não vai se reproduzir muito no seu corpo. Você será uma barreira contra ele.

A imunização já salvou milhares de vidas ao longo dos anos e tem potencial pra salvar ainda mais no futuro. Ela tem a capacidade de reduzir a quantidade de pessoas que pegam doenças letais, que matam muito. Assim, elas se tornam muito raras, como a poliomielite. Já reparou que pouca gente fica paraplégica por causa de infecção atualmente? Teve uma época em que muitas crianças perdiam o movimento por um vírus.

Em alguns casos, podemos acabar de vez com uma doença, como a varíola. Para isso, é preciso que muita gente se vacine. A vacinação não só ajuda quem se vacina no presente, mas também todas as gerações futuras.

Em contrapartida, deixar de tomar vacina coloca em risco não só a sua saúde, mas também a da sua família e da sociedade. Até mesmo doenças que foram consideradas eliminadas do mundo podem ter novos surtos se as taxas de vacinação diminuírem.

Enquanto a vacina não fica pronta...

Enquanto a vacina contra coronavírus não está disponível, a principal forma de combater a doença é prevenindo a infecção. Para isso, várias medidas são recomendadas, como: 

  • evitar aglomeração de pessoas e grandes eventos;
  • evitar contato próximo com qualquer pessoa que estiver doente ou apresentar sintomas;
  • usar máscaras em espaços públicos;
  • higienizar adequadamente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos ou utilizar álcool em gel (com no mínimo 60% de álcool);
  • ficar em casa se você está doente ou apresentar sintomas, a não ser que esteja procurando cuidado médico.

As medidas de prevenção como o uso de álcool em gel são a melhor forma de combater o coronavírus

Todas essas medidas são extremamente importantes na contenção da doença! O cumprimento por parte da população se faz essencial no combate à covid-19. Portanto, mesmo que não exista ainda uma vacina contra coronavírus, a gente pode fazer muita coisa. Então, não deixe de seguir as recomendações dos médicos e profissionais de saúde!

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*Este post foi escrito pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG pela parceria da SES-MG com o projeto Adote sua Vizinhança em Tempos de covid-19.

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